Saturday, May 09, 2015

Carinho

O quão devastador foi me drogar e assistir quase que em câmera lenta a adicção roubando meus amigos, família e até mesmo, inimigos. Não houveram flertes, namoros, sorrisos, bailes, danças, cartas, abraços ou afeto.
Eu vim de um cinza que me tomou no colo assim quando criança. Meu pai bebia demais, agredia demais, estuprava demais e roubava demais para ser pai. Minha mãe, por obrigação, foi e é ausente.
Eu tive que ser pai do meu irmão. Coloca-lo para dormir, fazer sua comida, leva-lo para a escola, ensina-lo a fazer seu deveres escolares, ajuda-lo a escovar seus dentes, para quando ele crescesse, sequestrasse um playboy e enfiasse um oitão no rosto de uma grávida chamando-a sem dó e nem remorso de vaca burguesa. Nunca fomos amigos. Ele assaltante, sequestrador e traficante, e eu, nóia. Esquecemos nosso parentesco quando escolhemos ser homenes cada um de sua maneira. Eu não pude ser criança. O tempo meu foi abnegado pelas exigências de um adulto ausente.
O que eu realmente quero dizer é que dos carinhos, não os tive. Cresci seco e aprendi da maneira mais difícil. Cresci batendo e apanhando na rua, mas sempre apanhando dentro de casa.
Do homem casado com a minha mãe, nunca carinho. Hoje eu me pergunto, quantos quilates tem um abraço de pai?
Foi tudo combustível que queimou pra eu vagar sozinho e quase que descalço pela cidade floreada de pixos e o adorno que eram as descascas dos prédios velhos da SP que me adotara.
Eu era filho das ruas. Carinhos eu nunca tive.
Amor?
Eram duas moscas acasalando em cima de um cachorro morto na boca do lixo enquanto eu fumava pedra aos 17.

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