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Thursday, June 24, 2021

Lata

  No fundo tocando Facção Central: "Desculpa mãe pela dor de me ver fumando pedra, pela Glock na gaveta, pelo gambé pulando a janela", e eu na boca do bar tomando conhaque, bem louco de crack. Era mais um dia normal, provavelmente a sexta ou a sétima vez que eu ia na biqueira naquele dia. Esse é o rolê do cavalo: vai buscar droga na boca pros boy pra ganhar uns tragos ou uma merreca pra fumar mais bagulho no final do dia. Na boca do bar, acelerado e pensando: vou na biqueira pros boy pego dez pila, compro uma pedra de cinco, uma lata de cerveja e uma dose pra diminuir o acelero. Amasso a lateral da lata, tiro o anel da lata e quebro no meio, faço uma espécie de ralo na lateral amassada, pego algumas bitucas do chão, acendo as bitucas, bato as cinzas das bitucas no "ralo" da lata, coloco meu bagulho, me entoco, acendo e fumo. Dois minutos depois eu saio da toca, volto pra boca do bar pra ouvir: "O seu papel deveria ser cuidar de mim, não espancar, torturar, machucar, me bater, eu não pedi pra nascer".

Sunday, May 26, 2019

Morto

  Um vento hostil que varria da face a vividez soprava naquele beco, frente a via em que eu me rastejava perante a sociedade da qual eu não fazia parte, somente para esmolar um cigarro qualquer que calasse a ânsia que escalava aos prantos dentro de mim. Apenas visto e jamais enxergado, recolhia meu corpo livido da calçada para o brumoso beco novamente. Febril e cego pela fumaça, deixava-me levar pelas verminosas palavras daqueles corpos putrefatos que me rondavam.
Com a morte em minhas mãos e bolsos, caminhava cego ao desfiladeiro do inferno para despencar no calor destrutivo da insanidade, mas acabava caindo rapidamente no gelado vácuo da realidade, onde palpável eram os devaneios da minha condição mental. Meu nível etílico estava tão alto quanto o álcool poderia me levar. O crack subia a mente, a cocaína descia a garganta, e eu cada vez mais demente. O sangue coagulado por todo meu nariz, as mãos imundas como meu caráter, as pernas em carne viva de tanto andar em círculos, neurótico, o giroflex das viaturas refletindo no suor do meu rosto; parecia um quadro de horror. A noite se rasgava e aos poucos os mortos voltavam para as suas covas, e eu me debatendo dentro da minha, sufocado pelo vazio que havia me enterrado.

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