Tuesday, January 21, 2020

Verão

 Rasteiros olhares que vagarosamente varrem paisagens com teus cílios, espelhando o verão com violetas crepúsculos e as paredes amarelo-alaranjadas do solstício austral. E quando noite cai, é soteiro, lúgubre, o estio e o olhar abismal que lágrimas enxurram pela moldura ressecada da janela d`alma, que em cascatas e rios refletem teus pares, e no afoito sopro da espontaneidade, na difluência astral inconsequente, as brisas bonadas desfazem-se em gotejo. Mas frente a mim não sei quem sou. Respiro, balbucio, cólera sucinto, e na mais escura das horas tudo se torna cegueira e gelo. O verão se apaga, as arestas do tempo cortam os dias. Só há penumbra e um vento que sopra com violência para trás tudo o que meu olhar tenta alcançar. Já não existem dálias nem crisântemos. Já não existem beijos nem seio quente, só um desfigurado presente e as migalhas da miséria no eterno outono acinzentado.

0 comments:

About This Blog

About This Blog

  © Blogger templates Brooklyn by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP