Sunday, February 09, 2020

Linha do Tempo

 1990, eu tinha 3 anos, meus pais trabalhavam duro e não podiam cuidar do meu irmão e de mim (isso, meu pai ainda era pai). Contrataram uma babá para cuidar de nós dois (meu irmão e eu). Ela era estranha, eu me lembro que ela era uma pessoa de personalidade ruim. Segundo minha mãe, a escola que eu estudava ligou para o trabalho dela questionando ela, meu pai e as múltiplas escoriações que eu tinha pelo corpo. Logo associaram à babá. Eu me lembro de ser espancado e ouvir dela; "se você contar para os teus pais, eu mato teu irmão e você na paulada", e também me lembro de ser obrigado a lavar as fraldas de pano do meu irmão à mão, no tanque, enquanto ele ficava mijado no carrinho de bebê o dia inteiro. Nesse mesmo dia, meu pai chegou mais cedo do trabalho, pegou uma faca, colocou no pescoço da babá e disse que se ela voltasse novamente àquela casa, ela morreria (meu pai sendo pai pela primeira e única vez).
 1994, minha avó por parte de pai morre de complicações no coração, meu pai entra em depressão profunda e começa a crescer seu alcoolismo. As discussões entre minha mãe e ele começam a ficar mais fervorosas. Ele começa a ameaçar minha mãe, minha avó materna, meu irmão e eu. Nesse mesmo ano eu começo a beber álcool constantemente nas rodas de candomblé que aconteciam na casa do meu primo.
 1995, meu pai começa a espancar e estuprar constantemente minha mãe, também espanca os filhos enquanto bêbado. Ameaçava bater na minha avó, uma senhora de 74 anos. Eu começo a ver meus pais fumando e roubo cigarros deles. Começo a fumar. Meu pai compra revistas pornográficas e faz meu irmão e eu nos masturbarmos na frente dele enquanto ele assiste.
 1996, meu pai chega bêbado em casa, todos se trancam em um quarto menos eu. Ele me ludibria à ir dormir com o "Papai", e eu deito na cama com ele. Acordo no meio da madrugada sendo estuprado, e de pavor, fico quieto, fingindo que eu estou dormindo para as coisas não ficarem piores.
 1997, meu pai chega bêbado em casa e vai dormir todo mijado. Eu acordo na madrugada, pego uma faca na cozinha, acendo a luz do quarto dele e tento matar ele. Eu tinha 10 anos, e o medo não deixou me deixou prosseguir. Fui dormir chorando de ódio dele.
 1998, meu pai chega às 11h da manhã totalmente transtornado de álcool em casa, pega um cano de PVC e tenta espancar meu irmão e eu. Meu irmão e eu estávamos trocados para a escola, tirei coragem do ódio que sentia por ele, e depois de ele me bater até quebrar o cano de PVC em mim, eu dou um soco no estômago dele e corro com o meu irmão para a rua, deixo meu irmão na escola dele e do telefone público da minha escola, ligo desesperado para a minha mãe contando detalhadamente tudo o que havia me acontecido. No mesmo dia, foi a vez da minha mãe colocar a faca no pescoço do meu pai e dizer: "se você encostar a mão nos meus filhos novamente, eu mato você". No mesmo ano eles se separaram, meu pai foi morar em um cortiço e continuou bebendo até ter dois derrames cerebrais por causa do álcool.
 1999, eu comecei a ir muito mal na escola, por muitas brincadeiras na sala (daquelas que eu não tive em casa), tentando mascarar a dor que eu ainda sentia. Repeti aquele ano; a sexta série.
 2000, eu começo a andar de skate e a andar com  outros skatistas tão maloqueiros quanto eu, e no final desse mesmo ano, começo a fumar maconha e cheirar cola
 2001, começo a me drogar com mais constância; beber, fumar maconha e cheirar cola todos os finais de semana depois da crisma.
 2002, minha mãe perde o emprego na contabilidade um ano depois do atentado ao World Trade Center, onde ficava a sede da empresa onde ela trabalhava, em Pinheiros. Faço meu último ano no Elvira Ramos.
 2003, entro para o colégio Alberto Conte, em Santo Amaro. Falto nas aulas para usar drogas e cigarro com o dinheiro da condução. Saio da escola em abril para estudar no Miguel Munhoz, e em abril mesmo, já perco o ano por faltas. Nesse mesmo ano eu começo a usar cocaína.
 2004, eu arrumo meu primeiro emprego em uma fábrica de tecidos, e já viciado em cocaína e outras drogas, acabo conhecendo o crack e gastando todos os meus salários nele.
 2005, começo a usar drogas no meu horário de trabalho e começo a roubar a empresa. Nesse mesmo ano, já começando minha decadência, começo a comer restos de comida da praça de alimentação do shopping perto de casa e comer comida do chão e do lixo.
 2006, sou demitido e vou para as ruas, usar drogas. Involuntariamente acabo conhecendo Narcóticos Anônimos e Alcoólicos Anônimos, mas não permaneço por muito tempo.
 2007 *apagado da minha memória*
 2008, uma semana antes do meu aniversário de 21 anos, após dois meses internado em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, meu melhor amigo comete suicídio, se enforcando com uma gravata no banheiro da própria casa (ele já havia me dito que queria cometer suicídio).
 2009 *apagado da memória*
 2010, meu uso de drogas chega ao limite em que eu não conseguia mais ficar de pé, comer ou respirar. Comecei a tomar medicações para desintoxicação, mas acabei voltando às drogas. Dia 28 do último mês do ano, volto a frequentar as reuniões de Narcóticos Anônimos.
 2011, bem no final do ano tenho uma recaída com álcool, mas retorno à recuperação.
 2012, 2013, 2014 eu passo limpo e trabalhando em uma grande empresa.
 2015,tenho uma recaída no crack.
 2016, limpo novamente, sou internado em um hospital psiquiátrico em São Bernardo do Campo, por tentativa de suicídio. 29 dias de confinamento hospitalar. No mesmo ano, sou internado novamente no mesmo hospital, pelo mesmo motivo (suicídio). 24 dias de confinamento hospitalar. Após a saída, tive uma recaída no álcool.
 2017, volto às ruas para usar drogas todos os dias
 2018, continuo nas ruas usando drogas, sendo humilhado pela polícia e por outros usuários.
 2019, outubro, sou novamente internado para tratar do meu transtorno de personalidade borderline e da minha dependência química. Passo 29 dias em confinamento hospitalar.
 2020, 9 de fevereiro, 3h45 da manhã, me encontro limpo novamente, tomando medicações, fazendo terapia e acompanhamento psiquiátrico, frequentando as reuniões de Narcóticos Anônimos, com 4 meses e 5 dias de sobriedade, trabalhando em um livro de poesias e estudando comandos elétricos no Senai.
 OBRIGADO À QUEM ESTEVE DO MEU LADO E NÃO ME ABANDONOU!

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